Como Regular Emoções com a DBT: Técnicas para Equilíbrio e Clareza Emocional
Bom dia queridos. Hoje preparei um texto para vocês com estratégias da DBT para regulação emocional, são muito eficientes para utilizarem com pacientes (sempre solicitem para praticarem em casa, como tarefa estendida ou em DBT tarefa de treinamento de habilidades).
Técnicas de regulação emocional da DBT:
A regulação emocional é a capacidade de compreender, acolher e manejar as emoções de forma equilibrada e funcional. Trata-se de um processo essencial para o bem-estar psicológico e para a construção de relacionamentos saudáveis. Diferente da ideia de "controlar" ou "reprimir" emoções, regular-se emocionalmente significa poder sentir intensamente sem se deixar dominar ou agir impulsivamente. Muitas pessoas enfrentam dificuldades nessa área, como no transtorno de personalidade borderline, transtornos de humor ou quadros ansiosos, em que há maior vulnerabilidade a oscilações emocionais intensas. A Terapia Comportamental Dialética (DBT), desenvolvida por Marsha Linehan, oferece um conjunto estruturado e eficaz de técnicas para ajudar os pacientes a se tornarem emocionalmente mais conscientes, flexíveis e resilientes.
O primeiro passo para regular uma emoção é poder reconhecê-la e nomeá-la com precisão. A DBT ensina o paciente a observar as sensações corporais, os pensamentos e os impulsos que acompanham cada emoção, criando assim uma linguagem emocional mais refinada. Nomear a emoção já permite uma pequena distância entre o sentir e o agir, ativando a chamada "mente sábia", conceito central na DBT, que representa o equilíbrio entre a mente racional e a mente emocional. Quando a mente sábia está acessível, é possível tomar decisões mais coerentes com os valores e os objetivos de longo prazo, mesmo em meio a intensas experiências internas.
Além do reconhecimento emocional, a DBT ensina o paciente a reduzir a vulnerabilidade a emoções negativas por meio da prática PLEASE, um acrônimo que resume cuidados básicos com o corpo e a mente: tratar doenças físicas (Physical illness), alimentar-se adequadamente (Eating), evitar o uso de substâncias que alteram o humor (Avoid mood-altering drugs), manter o sono regular (Sleep) e praticar exercícios físicos (Exercise). Quando essas áreas estão desreguladas, o sistema nervoso se torna mais sensível, aumentando o risco de reatividade emocional.
Outro pilar da regulação emocional na DBT é o cultivo de emoções positivas. Isso envolve engajar-se ativamente em atividades que tragam prazer, conexão ou significado, mesmo nos dias em que o humor está rebaixado. A proposta é agir com intenção para construir uma vida que valha a pena ser vivida. Além disso, a DBT ensina a saborear essas experiências positivas quando elas ocorrem, permanecendo presente e atento durante os momentos agradáveis, em vez de antecipar que eles acabarão.
Em situações em que emoções difíceis surgem de forma intensa, a DBT propõe o uso da ação oposta: uma técnica que convida a agir de forma contrária ao impulso gerado pela emoção, quando esta for desproporcional ou disfuncional. Por exemplo, se a emoção é raiva e o impulso é confrontar agressivamente, a ação oposta pode ser fazer um gesto de gentileza ou se afastar para evitar o conflito. Se o impulso da tristeza é se isolar, a ação oposta seria buscar contato social leve, como enviar uma mensagem a alguém querido. Essa técnica quebra o ciclo da intensificação emocional e promove autorregulação por meio do comportamento.
Para lidar com emoções que nascem de interpretações distorcidas, a DBT propõe a habilidade de verificar os fatos. A pessoa aprende a perguntar a si mesma: "O que realmente aconteceu?", "Minha interpretação é baseada em evidências?", "Minha resposta emocional é proporcional à realidade?". Ao verificar os fatos, o paciente aprende a diferenciar emoção legítima de emoção amplificada por suposições, promovendo mais estabilidade emocional.
Em momentos de crise emocional, a DBT também oferece estratégias de emergência. Uma delas é o protocolo STOPP, adaptado da TCC e integrado à DBT como uma sequência que interrompe o impulso automático:
S ? Stop (Pare): interrompa imediatamente o que está fazendo ou prestes a fazer. T ? Tome consciência: respire profundamente, conecte-se com o presente e observe seu corpo. O ? Observe: perceba o que está sentindo, pensando e quais são os impulsos presentes. P ? Perspectiva: reflita com mente sábia: qual seria a consequência dessa ação? O que posso fazer de forma mais saudável? P ? Prossiga: escolha uma resposta que esteja alinhada com seus valores e objetivos.
Outras técnicas emergenciais são agrupadas no protocolo TIP, voltado para regulação fisiológica: mudar rapidamente a temperatura corporal (como lavar o rosto com água fria), fazer exercício físico intenso (correr no lugar, pular corda) e praticar respiração lenta e relaxamento muscular. Esses recursos ajudam a reduzir a ativação emocional intensa no corpo, criando espaço para que a mente sábia possa agir.
Com o tempo, o paciente também aprende a desenvolver um relacionamento diferente com suas emoções, compreendendo que sentir não é uma questão, o problema está em como se responde ao que se sente. Emoções são mensageiras, não inimigas. Ao cultivar consciência emocional, reduzir vulnerabilidades, planejar ações positivas e responder com intenção e compaixão, a pessoa deixa de ser refém das oscilações do humor e passa a viver com mais autonomia, dignidade e liberdade.
Em resumo, a regulação emocional na DBT é um processo de aprendizado prático e contínuo. Não se trata de eliminar emoções difíceis, mas de aprender a navegar por elas com presença, clareza e sabedoria. Por meio das habilidades ensinadas como nomear emoções, verificar os fatos, aplicar a ação oposta, seguir o protocolo STOPP e cuidar do corpo com o PLEASE, o paciente fortalece sua capacidade de agir com consciência, mesmo diante de tempestades internas. Esse é o caminho para construir uma vida com menos sofrimento e mais coerência com aquilo que realmente importa.