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Teoria do Amor e Terapia de Casal: Quando o Amor Precisa de Cuidado
14.abr.2025

Teoria do Amor e Terapia de Casal: Quando o Amor Precisa de Cuidado

A Teoria Triangular do Amor, desenvolvida por Robert Sternberg, propõe que o amor é composto por três componentes principais, que podem se combinar de diferentes formas para formar diferentes tipos de relacionamento. Esses três componentes são:

1. Intimidade:
Refere-se à proximidade emocional, conexão, afeto e vínculo entre duas pessoas.
? Envolve apoio mútuo, compartilhamento de pensamentos e sentimentos, e confiança.
? É o que dá profundidade e segurança à relação.

2. Paixão:
É o desejo físico e sexual, bem como o entusiasmo e a atração intensa.
? Envolve a excitação, o romance e a energia da relação.
? Pode ser intensa no início e flutuar ao longo do tempo.

3. Compromisso:
É a decisão consciente de manter o relacionamento, tanto no curto quanto no longo prazo.
? Inclui o desejo de construir um futuro juntos e enfrentar desafios lado a lado.
? Requer responsabilidade, lealdade e esforço ativo para preservar o vínculo.

Combinações possíveis dos três componentes:
Sternberg identificou diferentes tipos de amor com base nas combinações desses elementos:
1. Carinho (somente intimidade): amor sem paixão nem compromisso ? típico de amizades profundas.
2. Paixão (somente paixão): forte atração física, mas sem vínculo emocional ou compromisso ? como um "amor à primeira vista".
3. Amor vazio (somente compromisso): relação mantida por obrigação ou decisão racional, mas sem intimidade ou paixão.
4. Amor romântico (intimidade + paixão): há conexão emocional e desejo físico, mas sem compromisso.
5. Amor companheiro (intimidade + compromisso): forte vínculo e lealdade, mas com pouca ou nenhuma paixão ? comum em relacionamentos duradouros.
6. Amor fatuoso (paixão + compromisso): compromisso rápido com base em paixão, sem intimidade ? pode não ser sustentável.
7. Amor consumado (intimidade + paixão + compromisso): é o "amor completo", ideal segundo Sternberg ? envolve conexão profunda, desejo físico e decisão de manter a relação.

Sternberg destaca que manter o amor consumado exige esforço contínuo: cultivar a intimidade, renovar a paixão e sustentar o compromisso. Para ele, o amor é uma ação, não apenas um sentimento ? algo que precisa ser praticado diariamente.
Numa relação conjugal disfuncional, o casal vivencia padrões repetitivos de interação que geram sofrimento, afastamento emocional e dificuldades de convivência. Esses padrões prejudicam o bem-estar individual e a saúde do relacionamento. Veja o que geralmente ocorre:

1. Comunicação Ineficiente ou Agressiva
? Falta de escuta ativa, interrupções e julgamentos constantes.
? Críticas frequentes, sarcasmo e palavras ofensivas.
? Dificuldade em expressar necessidades e sentimentos de forma clara e respeitosa.

2. Ciclo de Negatividade e Culpa
? Um ou ambos os parceiros alimentam um ciclo de ataques e defesas.
? Surgem pensamentos disfuncionais como "ele nunca me entende" ou "ela sempre quer controlar tudo".
? Emoções negativas como raiva, mágoa e ressentimento se acumulam.

3. Falta de Intimidade e Conexão
? A distância emocional e física aumenta.
? A sexualidade pode ser evitada ou usada como forma de punição ou controle.
? Há pouco tempo de qualidade juntos, e o vínculo se enfraquece.

4. Desprezo e Desvalorização
? Um parceiro pode expressar superioridade, sarcasmo ou desdém.
? Há falta de valorização das qualidades e esforços do outro.
? O respeito se perde, e a empatia desaparece.

5. Desequilíbrio de Poder
? Um dos parceiros pode exercer controle excessivo, manipulação ou dominação.
? O outro pode se submeter, se anular ou se ressentir, gerando frustração e baixa autoestima.

6. Evitação de Conflitos ou Explosões Frequentes
? Alguns casais evitam qualquer confronto, gerando um clima de frieza ou negação.
? Outros têm brigas intensas, com gritos, acusações e rupturas constantes, sem resolução real.

7. Comprometimento Fragilizado
? Os parceiros podem se manter juntos por obrigação, filhos, medo ou dependência emocional.
? Há ameaças de separação constantes ou atitudes que indicam desinteresse e descaso.

8. Dano à Saúde Mental e à Autoestima
? Relações disfuncionais frequentemente geram ansiedade, depressão, estresse e sensação de solidão.
? A autoestima pode ser afetada, especialmente quando há críticas recorrentes, traições ou negligência emocional.

John Gottman, um renomado psicólogo e pesquisador dos relacionamentos, desenvolveu o conceito dos "Quatro Cavaleiros do Apocalipse", que representam padrões de interação prejudiciais que podem levar ao fim de um casamento. Esses "cavaleiros" são:
1. Crítica
A crítica envolve ataques ao caráter ou à personalidade do parceiro, em vez de se concentrar em comportamentos específicos. Por exemplo, em vez de dizer "Você se atrasou hoje", a crítica soa como "Você nunca pensa em ninguém além de si mesmo". Esse tipo de comunicação é diferente de uma reclamação construtiva, pois generaliza falhas, criando ressentimento.
2. Desprezo
O desprezo é considerado o mais destrutivo dos quatro cavaleiros. Ele envolve tratar o parceiro com desdém, sarcasmo, zombaria, insultos ou até expressões corporais como revirar os olhos. O desprezo transmite superioridade e desprezo, corroendo a confiança e o respeito no relacionamento. Gottman considera o desprezo um forte indicador de divórcio.
3. Defensividade
A defensividade é uma resposta comum ao ser criticado, mas também é prejudicial. Ela ocorre quando a pessoa se coloca na posição de vítima, evitando a responsabilidade. Isso pode soar como justificativas ou tentativas de se esquivar do problema, como dizer: "Não é minha culpa, você que é muito exigente". Essa postura intensifica os conflitos ao invés de resolvê-los.
4. Obstrução (Stonewalling)
Esse cavaleiro aparece quando uma pessoa se retira da interação durante uma discussão, deixando de responder ou participando minimamente. O obstrução é uma forma de evitar o confronto, mas acaba passando a mensagem de indiferença, o que aumenta a frustração e a desconexão emocional.

Soluções de Gottman:
Para combater esses cavaleiros, Gottman sugere práticas como:
? Substituir a crítica por reclamações construtivas, focando em sentimentos e necessidades específicas.
? Praticar respeito e apreciação para neutralizar o desprezo.
? Assumir responsabilidade e evitar a defensividade.
? Fazer pausas durante conflitos intensos para reduzir o estresse e evitar a obstrução.
Gottman enfatiza que um casamento saudável depende da construção de uma base sólida de amizade, comunicação positiva e resolução eficaz de conflitos.

Na Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), um relacionamento saudável é construído com base em habilidades específicas que fortalecem a conexão entre os parceiros e ajudam a lidar com conflitos de maneira construtiva. Algumas estratégias e soluções comuns incluem:

1. Comunicação Assertiva
? O que é?: Expressar pensamentos, sentimentos e necessidades de maneira clara, respeitosa e direta.
? Como fazer?:
? Use mensagens no formato "Eu sinto? quando você? porque?" para evitar culpa e promover entendimento.
? Evite críticas, sarcasmo ou generalizações como "você sempre" ou "você nunca".
? Pratique a escuta ativa, repetindo o que ouviu para garantir entendimento.

2. Identificação de Pensamentos Disfuncionais
? O que é?: Reconhecer crenças e pensamentos automáticos que sabotam o relacionamento, como interpretações negativas ou suposições infundadas.
? Como fazer?:
? Desafie pensamentos como "ele não se importa comigo" analisando evidências reais.
? Substitua esses pensamentos por interpretações mais equilibradas e realistas.

3. Resolução de Conflitos
? O que é?: Adotar uma abordagem colaborativa para lidar com diferenças e discordâncias.
? Como fazer?:
? Foque no problema, não na pessoa. Ataques pessoais minam a resolução.
? Divida o problema em partes menores e procure soluções conjuntas.
? Use pausas durante discussões intensas para evitar escaladas emocionais.

4. Reforço Positivo no Relacionamento
? O que é?: Enfatizar comportamentos positivos em vez de focar apenas nos negativos.
? Como fazer?:
? Demonstre apreço e gratidão regularmente.
? Reconheça e elogie esforços e qualidades do parceiro.
? Planeje momentos de conexão, como encontros ou atividades prazerosas.

5. Gestão de Emoções
? O que é?: Aprender a identificar e regular emoções que interferem na interação com o parceiro, como raiva ou frustração.
? Como fazer?:
? Pratique técnicas de relaxamento e mindfulness para lidar com o estresse.
? Desenvolva tolerância ao desconforto emocional, evitando reações impulsivas.

6. Estabelecimento de Expectativas Realistas
? O que é?: Ajudar os parceiros a identificar crenças irracionais sobre como o relacionamento ou o parceiro "deveriam ser".
? Como fazer?:
? Ajuste expectativas com base na realidade e no diálogo.
? Reconheça que conflitos são normais e podem ser oportunidades de crescimento.

7. Construção de Intimidade e Conexão
? O que é?: Fortalecer a base emocional do relacionamento, promovendo proximidade.
? Como fazer?:
? Reserve tempo para conversas significativas e momentos juntos.
? Explore interesses em comum e atividades que reforcem o vínculo.
? Use gestos de carinho, como palavras gentis, abraços ou um simples "como foi seu dia?".

Essas estratégias da TCC ajudam os parceiros a cultivar respeito mútuo, compreensão e compromisso, promovendo um relacionamento mais saudável e satisfatório.
As relações disfuncionais podem ser trabalhadas com o auxílio de psicoterapia, como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) ou a Terapia de Casal, para que padrões sejam identificados, habilidades saudáveis desenvolvidas e o vínculo possa ser reconstruído ? quando há desejo e abertura de ambos os lados.

Dra. Clystine Abram

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