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Transtorno de Depressão Maior: Uma Abordagem Cognitivo-Comportamental
14.fev.2025

Transtorno de Depressão Maior: Uma Abordagem Cognitivo-Comportamental

O que é o Transtorno de Depressão Maior?

O Transtorno de Depressão Maior (TDM) é um transtorno mental caracterizado por humor deprimido persistente e/ou perda de interesse ou prazer em atividades anteriormente apreciadas, acompanhado por uma variedade de sintomas emocionais, cognitivos, fisiológicos e comportamentais. A depressão pode impactar significativamente o funcionamento diário do indivíduo, afetando relações interpessoais, desempenho acadêmico ou profissional e qualidade de vida.

Critérios Diagnósticos pelo DSM-5:
Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais ? 5ª edição (DSM-5), o diagnóstico de Transtorno de Depressão Maior requer a presença de pelo menos cinco dos seguintes sintomas durante um período de pelo menos duas semanas, incluindo pelo menos um dos dois primeiros:
1. Humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias.
2. Marcada diminuição do interesse ou prazer em quase todas as atividades.
3. Alterações significativas no peso ou no apetite.
4. Insônia ou hipersonia.
5. Agitação ou retardo psicomotor.
6. Fadiga ou perda de energia.
7. Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva.
8. Diminuição da capacidade de concentração ou indecisão.
9. Pensamentos recorrentes de morte ou suicídio.

Os sintomas não podem ser explicados por outra condição médica ou substância e devem causar sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, ocupacional ou em outras áreas importantes da vida.

Pensamentos e Crenças Disfuncionais da Tríade Cognitiva:
Aaron Beck, criador da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), propôs a tríade cognitiva para explicar a depressão. Segundo esse modelo, indivíduos deprimidos apresentam padrões de pensamentos negativos e automáticos em três áreas principais:
1. Visão negativa de si mesmo ? "Sou inútil", "Nada do que eu faço dá certo".
2. Visão negativa do mundo ? "O mundo é cruel", "As pessoas não se importam comigo".
3. Visão negativa do futuro ? "Nada nunca vai melhorar", "Sempre vou me sentir assim".

Essas cognições disfuncionais sustentam o transtorno e influenciam as emoções e comportamentos do indivíduo.

4. Emoções, Reações Fisiológicas e Comportamentos

Emoções
? Tristeza profunda
? Sentimentos de desesperança
? Ansiedade
? Irritabilidade
? Apatia

Reações Fisiológicas
? Fadiga constante
? Tensão muscular
? Dores inexplicáveis
? Alterações gastrointestinais
? Baixa energia

Comportamentos
? Evitamento de atividades sociais
? Isolamento
? Redução do autocuidado
? Procrastinação
? Comportamentos autodestrutivos

Avaliação Diagnóstica
A avaliação da depressão deve incluir:
? Entrevista clínica estruturada ou semiestruturada para identificar sintomas e duração.
? Instrumentos de avaliação, como o Inventário de Depressão de Beck (BDI-II) e a Escala de Depressão de Hamilton.
? Anamnese completa para excluir outras condições médicas ou psiquiátricas.

Conceitualização do Caso:
Na TCC, a conceitualização (avaliação e formulação de um plano de tratamento) é essencial para entender os fatores que contribuem para o transtorno do paciente e como tratá-lo. Ela inclui:
1. Fatores predisponentes ? Histórico familiar de depressão, traumas na infância.
2. Fatores precipitantes ? Perda de um ente querido, término de relacionamento.
3. Fatores mantenedores ? Evitação, isolamento social, pensamentos negativos recorrentes.
4. Fatores protetivos ? Apoio social, habilidades de enfrentamento, envolvimento em atividades significativas.

A compreensão desses fatores permite a elaboração de um plano de tratamento mais eficaz.
Plano de Tratamento para Transtorno de Depressão Maior (TDM):
1. Fase Inicial ? Avaliação e Psicoeducação (Sessões 1-3)
? Realizar entrevista clínica e aplicação de instrumentos (ex: BDI-II).
? Construir a fórmula do caso (fatores predisponentes, precipitantes, mantenedores e protetivos).
? Explicar o modelo cognitivo e a relação entre pensamentos, emoções e comportamentos.
? Introduzir o registro de pensamentos automáticos.

2. Fase Intermediária ? Intervenção Cognitiva e Comportamental (Sessões 4-10)
? Ativação comportamental: Planejar atividades prazerosas e significativas.
? Monitoramento e reestruturação cognitiva: Identificar e modificar pensamentos disfuncionais da tríade cognitiva.
? Treino de habilidades de enfrentamento: Estratégias para lidar com desafios emocionais.
? Prevenção de ruminação e autocrítica: Técnicas de mindfulness e autocompaixão.

3. Fase Final ? Prevenção de Recaídas e Encerramento (Sessões 11-15)
? Revisar progressos e reforçar estratégias eficazes.
? Trabalhar prevenção de recaídas, identificando gatilhos e planos de ação.
? Encorajar autonomia na aplicação das técnicas aprendidas.
? Encerramento gradual, com sessões espaçadas e reforço da autoeficácia.
Esse plano pode ser ajustado conforme a necessidade do paciente e a gravidade dos sintomas.

Estudo de Caso
História do Paciente
João, 35 anos, solteiro e morando com os pais, procurou terapia após um episódio depressivo grave, que perdurava por 6 meses. Relatava desmotivação, isolamento social e pensamentos recorrentes de fracasso e de ser um fardo para a família.

Aplicação da TCC
? Primeira fase: Psicoeducação e identificação de padrões negativos de pensamento, a tríade cognitiva.
? Segunda fase:Aplicação do curtigrama, para identificar as atividades que gosta e faz, gosta e não faz (para iniciar gradualmente a prática), não gosta e faz (para ter aceitação ou delegar a tarefa) e não gosta e não faz.
Ativação comportamental ? João começou a praticar caminhadas diárias e retomar contatos sociais, além de se inscrever em um curso on-line de designer gráfico.
? Terceira fase: Reestruturação cognitiva ? Questionamento e reestruturação de crenças como "Sou um fracasso", "Sou um fardo" (para a família), "Meus pais não suportam me ver assim", "O mundo é cruel", para desenvolver pensamentos mais funcionais.
Após 12 sessões, João relatou melhora significativa no humor e retomou atividades que lhe davam prazer.

Novas Abordagens para o Tratamento da Depressão:
Além da TCC, outras abordagens vêm sendo estudadas e aplicadas:
? Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) ? Foca na aceitação dos sentimentos negativos e no engajamento em ações alinhadas aos valores do paciente.
? Terapia Focada na Compaixão (TFC) ? Trabalha a autocompaixão e reduz a autocrítica intensa.
? Mindfulness-Based Cognitive Therapy (MBCT) ? Integra a meditação mindfulness com técnicas da TCC para prevenir recaídas.
? Estimulação Magnética Transcraniana (EMT) ? Técnica neurofisiológica para casos resistentes ao tratamento convencional

Conclusão:
O Transtorno de Depressão Maior é uma condição séria, mas com tratamento adequado é possível reduzir significativamente os sintomas e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. A TCC continua sendo uma das abordagens mais eficazes, auxiliando na modificação de padrões de pensamento negativos e incentivando mudanças comportamentais. No entanto, novas abordagens, como ACT e TFC, vêm se mostrando promissoras no tratamento da depressão. O mais importante é oferecer um plano de tratamento individualizado, levando em conta as necessidades específicas de cada paciente.

Dra. Clystine Abram

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